Universidade de Aveiro tem curso de Medicina em risco
A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) decidiu não homologar o Mestrado Integrado de Medicina (MIM) a funcionar desde o ano passado na Universidade de Aveiro e que envolve um total de 38 alunos.
A universidade admite o fracasso deste projecto, constituído em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, e revela que já está à procura de um novo parceiro para prosseguir com esta aposta formativa.
À semelhança do que acontece na Universidade do Algarve, o MIM de Aveiro é dirigido a alunos licenciados e tem a duração de quatro anos (em vez dos seis anos do "modelo tradicional"). A sua entrada em funcionamento foi aprovada em Dezembro de 2009 pelo então ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, que deu a "luz verde" na condição de ser estabelecido um consórcio entre a UA e o ICBAS. E é nesta parceria que parece estar a raiz dos problemas agora detectados pela A3ES.
A agência responsável pela certificação dos cursos de ensino superior público e privado a funcionar em Portugal refere, entre outros motivos, que "o corpo docente da Universidade de Aveiro é insuficiente para assegurar a implementação e o desenvolvimento do plano de estudos e seus conteúdos, não tendo sido garantido o empenhamento do ICBAS na participação neste projecto, considerada essencial desde o início do mesmo".
"O programa não satisfaz os requisitos necessários para um programa médico no que respeita a vários critérios essenciais: empenhamento das instituições, recursos humanos e qualidade do programa", conclui a A3ES.
Contactado pelo PÚBLICO, o reitor da UA lembra o "compromisso ao mais alto nível" que esteve na origem do MIM e não hesita em afirmar que o projecto falhou porque "o ICBAS, mais expressamente o seu director, não honrou esse compromisso". "Tudo fizemos da nossa parte para que este projecto fosse um sucesso", lamenta Manuel Assunção.
Alunos com futuro incerto
O reitor assegura mesmo que a aposta neste modelo de formação dirigido a alunos licenciados não será abandonada e que a UA está já à procura de outro parceiro. "Este casamento com o ICBAS acabou. Teve o seu tempo. Já estamos à procura de outro consórcio", disse ao PÚBLICO. Sobre o futuro dos 38 alunos que agora frequentam o segundo ano do MIM - e que resultam de uma selecção entre mais de mil candidatos -, Assunção assegura que ainda está em curso o diálogo que vai permitir "salvaguardar os seus melhores interesses", admitindo que, entre outras opções, os estudantes possam requerer uma transferência para outra escola médica.
"Uma parceria exige o cumprimento das duas partes. Excedemos bastante a parte que nos era exigida", responde António Sousa Pereira, director do ICBAS, recusando qualquer responsabilidade neste falhanço. O responsável sublinha o argumento da A3ES que aponta para a insuficiência do corpo docente da UA e nota ainda que nunca houve um currículo e uma opção pedagógica aprovados.
"Ainda assim, a UA decidiu levar o curso avante, esperando que o ICBAS desse cobertura. Tínhamos de assegurar metade do curso e fizemos mais do que isso. Assim, não", reage António Sousa Pereira.
No início deste ano, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina pediu o encerramento urgente do curso da UA. A Ordem dos Médicos também se pronunciou várias vezes contra este modelo de formação.
fonte:http://www.publico.pt/E